Formigas cortadeiras podem ser uma bela dor de cabeça. E nem sempre o controle é fácil. Vamos ver agora as estratégias por trás do controle das formigas cortadeiras.

Temos no Brasil dois principais tipos de formigas cortadeiras: as saúvas e as quem-quéns. Podemos separar esses dois grupos pela morfologia, mas como essa é uma situação pouco prática a melhor forma de diferenciar é observando o tamanho do formigueiro.
Formigas saúva fazem formigueiros com montes de terra solta bastante altos e largos. As quem-quens fazem formigueiros com montes pequenos de terra solta, geralmente com até 30cm de altura. Isso sendo só a entrada do formigueiro, porque a realidade é que a estrutura subterrânea que as formigas cortadeiras constroem é enorme. Apesar desses fatores de comparação, é possível encontrar situações difíceis de identificar, com ninhos de quem-quens cheios de terra solta.
As formigas cortadeiras não se alimentam das folhas picadas, elas levam para o formigueiro e usam essas folhas para cultivar o fungo, que é o verdadeiro alimento das formigas.
É importante saber diferenciar as formigas cortadeiras e observar o tamanho dos montes de terra solta para poder dosar corretamente os produtos de controle.
ECOLOGIA
É importante reconhecer que há muitas teorias e abordagens diferentes sobre ecologia e agricultura que consideram que as formigas cortadeiras tem uma função importante na natureza, principalmente no que se refere à ciclagem de nutrientes (já que as folhas picadas vão para debaixo da terra e são transformadas pelo fungo que alimenta as formigas). Apesar dessas teorias e abordagens, como a teoria da trofobiose, vale ressaltar alguns pontos: formigas cortadeiras não atacam apenas plantas doentes ou em desequilíbrio, plantas saudáveis também podem ser atacadas (as dinâmicas de preferência alimentar dos insetos são complexas e ainda estão sendo descobertas muitas coisas novas nessa área); formigas cortadeiras não são indicadoras de solo pobre, pois a alocação dos formigueiros geralmente estão associadas com disponibilidade de alimento próximo.
As formigas são agentes fundamentais dos ecossistemas, mas quando o ataque provoca muita destruição, é necessário intervir. Aliás, existem até protocolos de controle de formigas cortadeiras para áreas de reflorestamento de espécies nativas. É preciso observar o equilíbrio.
CONTROLE
Existem diferentes alternativas de controle. Entre elas a mais eficiente é pelo uso de isca formicida. Estudos foram feitos sobre a eficácia do uso de folhas de mamona, folhas de gergelim, casca de laranja mofada (https://revistas.ufpr.br/extensao/article/download/77179/pdf), e apesar de haver algum grau de eficiência nesses produtos, a praticidade e o tempo necessário para obter o controle satisfatório são desvantajosos. Jogar água quente, água sanitária com sabão, vinagre, ou qualquer outro produto doméstico tem também pouca ou nenhuma eficiência.
Em árvores frutíferas podemos adotar a estratégia da barreira física. Com uma garrafa plástica cortada ou um cano PVC cortado podemos colocar na base do tronco, com o plástico “abraçando” o caule, e passamos graxa na parte de fora do plástico. Assim as formigas não conseguem subir, e a árvore ou arbusto fica protegido.
Quando planejamos a aplicação da isca formicida no jardim precisamos ter muita atenção sobre ONDE colocar o produto. As formigas cortadeiras são extremamente inteligentes e se você tocar o produto com as mãos nuas, se você jogar o produto dentro do formigueiro, se você jogar o produto no meio da trilha, as formigas vão rejeitar as iscas.
Como controlar formigas cortadeiras:
Identifique o tipo de formiga cortadeira buscando o monte de terra solta na entrada do ninho
Identifique o local em que as formigas estão derrubando as folhas (elas picam na própria planta ou derrubam para picar no chão. Identifique onde estão sendo derrubadas as folhas no chão).
Dose o produto conforme o tipo de formiga e recomendações do fabricante na embalagem
Use luvas (vinil ou látex) para manusear o produto
Aplique o produto na lateral das trilhas
Aplique o produto no local em que as formigas então derrubando as folhas, entre as folhas picadas
É importante proteger as iscas da umidade e da chuva. Você pode cobrir as iscas com uma telha ou pode usar um protetor de isca (parece com uma casinha presa em um palito, você coloca a isca dentro da casinha e finca o palito no chão).
Também é preciso ter cuidado com animais de estimação. As iscas geralmente são feitas com bagaço de laranja infiltrado com fipronil. O fipronil é um inseticida que pode afetar cães e gatos que venham a comer o produto.
Se as iscas molharem com a chuva, a eficiência despenca e é quase certo que você precisará fazer uma nova aplicação. O mesmo vale pelo espalhamento incorreto do produto.
O resultado aparece depois de uma semana do uso da isca, e as vezes é preciso fazer uma reaplicação.
Também não adianta espalhar a isca pelo jardim aleatoriamente, sem saber por onde as formigas passam ou de onde elas vêm. As iscas são atrativas, mas não “chamativas”, ou seja, o produto atrai a formiga que está próxima, mas não “chama” a formiga que está do outro lado do jardim.
OUTROS PRODUTOS
O uso de produtos de controle biológico como Beauveria, Metarrhizum e Trichoderma é promissor, apesar de que os produtos não são muito fáceis de encontrar com registro de venda livre (produtos com registro agrícola são de uso proibido no jardim, mesmo quando o controle é biológico). São produtos menos perigosos do que as iscas formicidas, mas a aplicação requer um pouco mais de conhecimento técnico. Uma pesquisa feita para avaliar a eficácia de Beauveria bassiana + Trichoderma harzianum no controle de formiga cortadeira (https://www.scielo.br/j/rarv/a/5JbLR8QrJYm4k4HMxGyQmLq/abstract/?lang=pt) identificou 100% de sucesso quando o produto foi aplicado diretamente sobre o fungo que alimenta a formiga, mas quando o produto foi empregado na forma de isca não foi eficiente. Um outro estudo ( https://core.ac.uk/download/pdf/84613789.pdf), dando o nome do produto de “bioisca” obteve resultados mais promissores. De todo modo ainda é necessário mais estudos e maior oferta desses produtos com registro domissanitário ou de venda livre.
Para mais informações sobre formigas cortadeiras complemente sua leitura com esses dois artigos:
REVISTA FAPESP: Controlando a ação das saúvas
INSTITUTO BIOLÓGICO: Formigas cortadeiras
Excelente!