Esses adubos orgânicos estão entre os mais usados no jardim, mas possuem algumas diferenças importantes. Vamos entender mais sobre eles nesse artigo.

Temos algumas categorias diferentes quanto à origem dos adubos orgânicos. Temos os adubos orgânicos puros e os compostados. Os adubos orgânicos puros possuem um único material de origem, como farinha de osso, farelo de algodão ou torta de mamona. Esses adubos têm origem de uma única fonte, e possuem características específicas. Eles são processados na indústria, seja por um processo de moagem, secagem ou ambos. Os adubos orgânicos compostados possuem geralmente origem de diversos materiais (restos vegetais com precença, ou não, de restos animais) passam pela ação de microrganismos ou minhocas que quebram e transformam as moléculas orgânicas.
COMPOSTO
O composto orgânico é um adubo de cor escura, parecido com terra preta, e pode ser produzido de diferentes formas. As técnicas mais comuns de compostagem são a compostagem em leiras e compostagem em pilhas. O que é característico desse adubo é a elevação de temperatura no interior dos montes de compostagem pela ação de microrganismos, e pode chegar até 70˚C durante a fase chamada de termofílica. Essa variação de temperatura promove o controle de microrganismos nocivos, tanto para as plantas quanto para nós.
Pela natureza do adubo, o composto orgânico possui todos os macro e micronutrientes para a nutrição vegetal. Apesar disso, o composto orgânico possui uma concentração de nutrientes mais baixa quando comparado com adubos químicos. Veja abaixo a concentração média de alguns nutrientes em compostos organicos.
COMPOSIÇÃO DO COMPOSTO ORGÂNICO:
Matéria orgânica (medida em carbono): 31%
Nitrogênio: 1,4%
Fósforo (medido em P2O5): 1,4%
Potássio (medido em K2O): 0,8%
(Fonte: IPNI,1998)
Riscos de qualidade: Quando os montes de produção do composto não são manejados corretamente é possível haver desequilíbrio microbiológico, resultando em um material de mau-cheiro e com alto teor de microrganismos nocivos (coliformes, salmonella ou até ovos de vermes). Em casos assim o produto deve ser rejeitado. Outro problema que é muito comum é a presença de propágulos de plantas daninhas (sementes, bulbos, rizomas etc.), e ocorre principalmente em montes de composto que ficam expostos ao tempo por muitos meses sem manutenção. Utilizar esse tipo de material espalha todo tipo de plantas daninhas pelo jardim, criando um problema com as plantas invasoras. Um terceiro problema, menos comum mas também já visto em campo, é a indústria colher e ensacar o composto antes da maturação do produto, que em um processo de "fermentação" dentro da embalagem ou no próprio canteiro do jardim. Composto que imaturo que fermenta na embalagem tem um cheiro forte de amônia e pode prejudicar o crescimento das plantas no jardim.
ESTERCO
O esterco mais usado no jardim é o esterco bovino, e é dele que vamos tratar de forma específica neste artigo. O esterco bovino, por mais que seja, geralmente, de natureza de um único material de origem, passa pelo processo de transformação por microrganismos no rúmem do boi. O esterco bovino deve sempre passar por um processo de cura, que consiste em um processo de fazer montes com o esterco e deixar descansar por cerca de 90 dias antes de usar como adubo. Quando o esterco é fresco ainda há um alto teor de umidade e nitrogênio na composição, que é rapidamente atacado por microrganismos. Quando o esterco fresco é utilizado como adubo essa alta atividade inicial de microrganismos geralmente é nociva para as plantas. O processo de descanso do esterco permite que o material fique mais seco e entre em equilíbrio, gerando uma qualidade maior para ser aproveitado. Assim como o composto, o esterco bovino possui todos os macro e micronutrientes para uma boa nutrição vegetal. Veja abaixo a composição média do esterco bovino curtido.
COMPOSIÇÃO DO ESTERCO BOVINO CURTIDO:
Matéria orgânica (medida em carbono): 57%
Nitrogênio: 1,7%
Fósforo (medido em P2O5): 0,9%
Potássio (medido em K2O): 1,4% (Fonte: IPNI,1998)
Riscos de qualidade: Como já citamos, usar o esterco bovino fresco pode trazer problemas para as plantas, portanto é desaconselhável usar o produto desta forma. Um outro problema comum decorre da qualidade do pasto em que o gado se alimenta. Pastos "sujos", com infestações de plantas daninhas, terão sementes misturadas no esterco (tanto vindas na alimentação do gado quanto vindas no momento da coleta do esterco no campo/ curral). É frequente encontrar canteiros infestados de plantas daninhas (braquiária, buva, mamona etc.) por esterco bovino. O processo de cura do esterco permite reduzir um pouco a quantidade de plantas daninhas infestantes, mas não elimina totalmente o problema.
HÚMUS DE MINHOCA
O húmus de minhoca é produzido por um processo chamado de vermicompostagem, em que o sistema digestivo das minhocas faz as vezes dos microrganismos no processo de transformação do resíduo orgânico. As minhocas mais usadas nesse processo são minhocas vermelhas da califórnia, que possuem um interesse maior em resíduos vegetais frescos (as minhocas nativas do Brasil geralmente preferem um material orgânico mais decomposto, tendo pouco interesse em resíduso frescos). O processo digestivo das minhocas contribui para um produto de alta qualidade física, química e microbiológica. Um estudo realizado por SILVA et al (2011) identificou que a ação das minhocas pode reduzir cerca de 99% a população de coliformes nos resíduos orgânicos. Por essa característica de "higienização" do composto produzido e pela facilidade de manutenção, a vermicompostagem é uma das alternativas mais indicadas para o reaproveitamento de resíduos na compostagem doméstica.
COMPOSIÇÃO DO HÚMUS DE MINHOCA:
Matéria orgânica (medida em carbono): 60%
Nitrogênio: 2%
Fósforo (medido em P2O5): 1,4%
Potássio (medido em K2O): 1,4%
(Fonte: adaptado de CHAGAS et al, 2003)
Riscos de qualidade: Dependendo da origem dos resíduos orgânicos usados no processo de vermicompostagem, o sistema digestivo das minhocas pode não ser capaz de reduzir a população de microrganismos fitopatogênicos, ou seja, fungos e bactérias causadores de doenças das plantas. Também dependendo da origem dos resíduos, as minhocas podem não se alimentar de sementes, como tomate, pimentas, entre outras, havendo o espalhamento desses plantas aleatoriamente pelo jardim quando é feita a adubação. O mesmo pode ocorrer se os canteiros comerciais de vermicompostagem ficam expostos por muito tempo, havendo propagação de plantas daninhas.
USOS
Costumamos usar esses três tipos de adubos orgânicos com o mesmo propósito: o de enriquecer o solo com matéria orgânica e todos os macro e micronutrientes. Podem ser usados misturados na terra, no momento do proparo do solo para o plantio ou semeadura, ou podem ser aplicados sobre o solo em um canteiro já existente. Qualquer um desses adubos pode ser trocado pelo outro sem prejuízo do resultado, bastando apenas verificar a procedência do material e a qualidade.
Não é recomendável usar esses adubos orgânicos como material direto de cultivo, na substituição da terra ou substrato convencional. Devem sempre ser misturados. No solo, pode ser misturado de 3 a 10Kg de algum desses adubos por metro quadrado. Em vasos podemos misturar entre 100 a 300g de algum desses adubos para cada quilo de terra ou substrato.
REFERÊNCIAS:
CHAGAS, P. S. M. das; COSTA, C. A. C.; TEIXEIRA, L. B.. Composição química de húmus de minhoca vermelha da california (Eisenia foetida). 2003.
IPNI. Manual Internacional de Fertilidade do Solo. 1998.
Disponível em: https://www.bibliotecaagptea.org.br/agricultura/solos/livros/MANUAL%20INTERNACIONAL%20DA%20FERTILIDADE%20DO%20SOLO.pdf
SILVA, R. F.; VASCONCELLOS, N. J. S.; STEFFEN, G. P. K.; DOTTO, R. B.; GRUTKA, L.. CARACTERIZAÇÕES MICROBIOLÓGICAS E QUÍMICAS EM RESÍDUOS ORGÂNICOS SUBMETIDOS À VERMICOMPOSTAGEM. R. Bras. Agrociência, Pelotas, v.17, n.1-4, p.108-115, jan-mar, 2011.
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