Vou ser direto nesse texto: não. Liquens e bromélias não são parasitas. Muitas pessoas chamam de pragas, de musgo, de mato, falando que apodrece ou seca o galho. A verdade é que liquens e bromélias não possuem nenhuma estrutura morfológica para o parasitismo. Isso significa que não penetram nem enforcam os ramos em que se apoiam.

Uma vez estava prestando um serviço para um cliente e encontrei essa situação que precisei registrar: Tillandsias crescendo apoiadas no gradil. Um forma muito clara para entender: se fossem parasitas não cresceriam em grades e fios de energia.
Mas esse tópico é realmente uma polêmica. Sempre que eu entro nesse assunto com meus alunos alguém diz que sempre notou maiores populações em plantas fracas ou secas. Muitos clientes meus também dizem que combatem essas plantas. E com base nisso (e na minha própria percepção) eu reconheço que existe uma correlação um pouco suspeita de liquens e bromélias em árvores ou ramos mais secos.
Mas tem algo que eu acredito muito: correlação não é necessariamente causa e efeito. É preciso investigar melhor o tema.
Liquens são relações simbióticas (ou seja, uma amizade bastante íntima) entre espécies de fungos e algas. Enquanto as algas fornecem açúcares para os fungos pela fotossíntese, os fungos fornecem nutrientes para as algas. O termo mais atual para esses seres vivos são fungos liquenizados. Eles apenas se apoiam sobre as árvores, pedras, solo, muros e paredes.
As bromélias em questão são geralmente do gênero Tillandsia. Podem formar grandes aglomerados e absorvem água e nutrientes majoritariamente pelas folhas. Em inglês são chamadas de “air plants” devido à capacidade de viverem na ausência total de substrato.
Algumas pessoas até reconhecem que não são parasitas, mas que o excesso desses seres em algumas árvores pode “abafar” os galhos e prejudicar a brotação.
Confesso que fico dividido entre a biologia não parasitária dessas espécies e o fato de haver alguma correlação com a diminuição da vitalidade das árvores colonizadas. É preciso ter muito critério para avaliar se a presença dessas plantas e liquens estão realmente causando algum problema ou se são sintomas de uma árvore ou arbusto já enfraquecido por outras razões.
Uma impressão que tenho é que plantas mais velhas e mais fracas são mais colonizadas por liquens e Tillandsias, ao invés do entendimento que liquens e Tillandsias causam enfraquecimento. É quase como se as Tillandsias e os liquens tivessem maior afinidade por plantas já enfraquecidas ou muito velhas. Esse meu pensamento é corroborado por esse artigo (em inglês): https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/plb.12406
Por outro lado existem pesquisadores que encontraram um efeito de modificação da estrutura de vasos condutores de seiva provocado pela presença de Tillandsia recurvata, o que provavelmente leva aí ressecamento dos galhos. Esta informação está presente no resumo deste artigo (inglês): https://www.researchgate.net/publication/343952939_Is_ball_moss_Tillandsia_recurvata_a_structural_parasite_of_mesquite_Prosopis_laevigata_Anatomical_and_ecophysiological_evidence
E agora? O que fazer? Aqui está um belo ponto para ser pesquisado por alguma universidade ou instituto de pesquisa: remover liquens e Tillandsias das árvores contribui com o aumento do vigor da planta?
Se na sua análise há realmente o efeito negativo da presença de liquens e bromélias nos ramos da árvore ou arbusto do seu jardim, uma alternativa é fazer a pulverização com calda bordalesa 1% (10g ou 10ml de calda bordalesa em pó ou líquida concentrada dissolvida em 1L de água). Essa medida contribui com o controle das bromélias e liquens. É preciso usar EPIs quando fizer a aplicação da calda bordalesa, como luvas, máscara e óculos de proteção. Uma aplicação por semana da calda bordalesa, por três ou quatro semanas irá contribuir com o controle.
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